A Falta de Carboidratos Prejudica Humor, Energia e Autorestima
A Falta de Carboidratos Prejudica Humor, Energia e Autoestima
Dietas que restringem massas, frutas e legumes podem levar ao emagrecimento, mas afetam o ânimo
Há alguns anos, as dietas que cortam os carboidratos do consumo diário têm se tornado mais populares. Mas a notícia pode não ser tão boa para quem está pensando em restringir a ingestão de, por exemplo, pães, massas, frutas e legumes: além de não ser particularmente eficiente na perda de peso, eliminar os carboidratos da dieta pode comprometer o humor, provocar baixa autoestima, sensação de tristeza e queda da energia.
As informações foram comprovadas por uma nova pesquisa realizada na Universidade Federal de Sergipe (UFS), com financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (Fapitec), e coordenada pela cientista Raquel Simões Mendes Netto.
O projeto de pesquisa, segundo Raquel, tinha como objetivo identificar o melhor tipo de dieta e exercício físico para o emagrecimento. Assim, os 70 participantes foram divididos em quatro grupos. Dois deles seguiram uma dieta restritiva de carboidratos, e os outros dois, uma equilibrada. Dois grupos faziam caminhada e corrida, e os demais, exercícios funcionais.
Os participantes foram acompanhados por 12 semanas, e os resultados podem surpreender quem é adepto das rotinas mais radicais.
“Não encontramos diferenças significativas entre os grupos. Todos eles perderam peso, melhoraram suas condições físicas e cardiorrespiratórias e os parâmetros sanguíneos – colesterol, triglicérides, glicose etc. – se comportaram da mesma forma”, conta a pesquisadora.
A diferença, porém, estava no ânimo dos participantes da pesquisa. “As pessoas que estavam sob a dieta reduzida de carboidratos tiveram maior dificuldade de adesão ao programa, principalmente nas refeições noturnas. Elas se mostravam muito irritadas, sem paciência com o plano – e olha que só reduzimos pela metade a ingestão diária de carboidratos”, conta a professora.
Química. A origem dessa irritação está na química do organismo. “Quando ingerimos carboidratos, há a liberação de neurotransmissores, principalmente a serotonina, que estão ligados à sensação de bem-estar”, comenta Raquel.
“Quando cortamos carboidratos, o cérebro fica sem energia. Obviamente, a prioridade do organismo será para as atividades que são vitais a nossa saúde. O que não é prioridade, o cérebro não faz”, complementa a nutricionista Vanderli Marchiori, consultora da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo).
Segundo ela, quando está em privação, a autoimagem também sofre. “Quando a pessoa opta por uma dieta restritiva em carboidratos, é porque ela já não está satisfeita com o próprio corpo. A privação do carboidrato é um gatilho para intensificar isso”, explica.
A especialista alerta que a manutenção prolongada de uma dieta pobre em carboidratos pode levar a prejuízos na saúde dos rins e do fígado.
Cardápio focado em proteínas peca por falta de variedade
Quando adolescente, o advogado e músico Artur Rezende, 30, pesava cerca de 70 kg. Com o passar dos anos, os números da balança foram subindo também, e ele chegou aos 95 kg. Insatisfeito com o excesso do peso, ele resolveu emagrecer usando a dieta Dukan, que restringe o consumo de carboidratos.
“Nos primeiros dias, você come só proteína. Em uma segunda fase, pode consumir carboidratos de legumes e verduras dia sim, dia não. E na terceira fase, vai abrindo o leque de alimentos que pode consumir”, conta.
Os resultados na balança são indiscutíveis: desde janeiro, quando começou o novo programa alimentar, ele já perdeu cerca de 15 kg. Mas não foi um mar de rosas. “Acho essa uma dieta difícil de fazer. No início é bom, mas vai ficando cada vez mais difícil porque não imagina a falta que faz um pão”, diz. Ele conta que, às vezes, deixa de comer por estar enjoado de ter sempre as mesmas opções. “A gente cansa de comer sempre frango, blanquet de peru e queijo cottage. Vejo as pessoas comendo um pão de queijo e morro de vontade”, reclama.
Apesar dos quilos a menos, o corpo sentiu outros efeitos. “Eu me sinto mais fraco, com menos energia e disposição para fazer as coisas. Muitas vezes, fico mal-humorado por não poder comer as coisas que eu quero, ou beber alguma coisa com meus amigos”, revela.
Mas, em sua opinião, esse sentimento não é exclusivo da dieta restritiva em proteínas. “Não poder comer as coisas é muito triste. Me sentiria assim, independente do tipo de dieta”, diz. (RS)
Os resultados da pesquisa foram surpreendentes?
Sim e não. Sim, porque imaginávamos que os diferentes tipos de atividades físicas pudessem dar resultados diferentes, e não, porque já imaginávamos os resultados no que dizia respeito às dietas.
A pesquisa adotou a dieta restritiva de carboidratos?
Não. Nós diminuímos a quantidade normal em 50%. Isso significa que de 20% a 25% das calorias consumidas vinham de carboidratos. Esse é o percentual mínimo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Menos do que isso, já pode apresentar riscos para a saúde.
Por quê?
Quando você consome um alimento rico em carboidratos, há vitaminas, fibras, sais minerais e outros nutrientes que também estão ali. Se você deixa de comer esses alimentos, compromete esses outros nutrientes que também são importantes para o corpo.
Sabemos que os carboidratos não são todos iguais. Quais os mais recomendados?
Os chamados carboidratos de boa qualidade: os grãos integrais, as frutas, verduras, raízes. Deve-se evitar ao máximo os alimentos refinados e os açúcares. Uma a duas porções de doces por dia são o máximo recomendado. Às vezes, a pessoa toma quatro cafezinhos adoçados com açúcar no dia e come uma sobremesa. Já são cinco porções, e ela nem percebeu. (RS)
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